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ESCRITORES COM BENEFÍCIOS | COMO MELHORAR OS MEUS DIÁLOGOS?

Por Bárbara Sobral •
segunda-feira, 19 de abril de 2021

 


Texto originalmente na EDIÇÃO 02 da minha newsletter ALEATORIEDADES E UM CAFÉ, POR FAVOR.

 

    Acho que esse é um dos maiores problemas que eu detecto quando trabalho com uma leitura crítica: o engessamento dos diálogos. Para mim é um problema bem grave, pois é através do diálogo que a gente vê as relações e conflitos dos personagens desenvolvendo ao vivasso. É o famoso contar e mostrar em uma coisa só. Tem que ter uma malemolência, o que muita das vezes se perde por conta de dois problemas bem comuns: a busca pela revisão perfeita e a ideia de que menos é mais.

É claro um livro com uma revisão textual lindinha é tudo que a gente quer, mas a gente precisa ter muito cuidado no trabalho de revisão para que o texto não pareça ter saído de uma manual de exemplos de como escrever igual a um mestre da língua portuguesa. A gente precisa se lembrar constantemente que o jeito que a gente fala no dia a dia é diferente de como a gente escreve uma narração, por exemplo. Tem palavras, gírias, expressões, pausas, titubeios, que nós usamos durante um diálogo que não usamos em um texto narrativo.

Eu costumo sugerir que para quebrar esse engessamento você precisa buscar a fluidez... conversando com alguém. É um ótimo treinamento. Nada de mensagem de texto, viu? Eu estou falando de mandar áudios para os amiguinhos, escutar a conversa das pessoas no ônibus ou na fila do supermercado, reparar nas reações das pessoas, nas pausas, nas gírias, sotaques, erros e vícios de linguagem. São esses detalhes que nós devemos marcar nos nossos diálogos para encontrar essa naturalidade.

Precisamos ter cuidado ao revisar para não tirar essa naturalidade das falas por buscarmos seguir um modelo estrutural, que é o correto, mas em diálogo pode causar um desconforto na leitura.

Quanto ao menos é mais é mais uma questão de exposição e saber o que os leitores precisam tirar daquela cena — porque a gente tem que tirar algo. Eu vejo muito diálogos que literalmente começam com:

— Oi.
— Oi.
— Tudo bem?
— Tudo. E você?

    Já vou parar aqui. Já foram quatro linhas de nada com nada que você podia ter suprimido em duas frases bem simples como "trocamos cumprimentos e o silêncio caiu sobre nós de maneira pesada, até que ela cortou com sua voz suave e temerosa." Viu? Mesmo efeito e ainda me deu uma emoção. Costumo ver dicas de que diálogos precisam ser curtos e diretos, pois nos falamos assim no dia a dia. Sim e não. Diálogos corriqueiros não são extensos, a gente não faz altos monólogos para falar de coisas do dia a dia. Normalmente a gente fala um:

— Fui eu quem pegou o pão.
ou
— Eu vou lavar as louças e finalmente, eu vou botar os pés para o ar e ninguém vai me impedir!

Mas bora lembrar que depende de quem fala e sobre o que se fala. Ponto. Quando você coloca seu personagem para falar você precisa saber como ele fala — rápido, pausado, devagar, nervoso, ansioso, agitado, direto, enrolado, etc. Os maneirismos acompanham na narração e descrição dos personagens. O escritor tem que ter domínio disso tudo ao escrever e editar a história. Então, o menos vai ser mais se a cena pedir por isso, caso contrário, o menos vai ser menos e seu leitor crítico vai pedir "pelo amor de Deus dá uma pincelada nisso aqui e constrói uma razão para termos essa cena rolando".

    Nunca se esqueça que quando você escreve QUALQUER COISA, essa coisa tem que ter um propósito para estar ocupando aquela página. Se você não identificar — ou for simplesmente por um prazer íntimo — deleta. Você vai me agradecer no futuro.



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