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Aleatoriedades e um café, por favor | Liberdade, Liberdade

Por Bárbara Sobral •
sexta-feira, 14 de setembro de 2018


Passamos a maior parte da nossa vida acreditando que a vida adulta abre as portas para o mito da liberdade. Lembra da sensação de atravessar a rua sem segurar a mão da sua mãe? Você se sentiu grande, não é? E quando sua avó pediu para comprar alguma coisa ‘rapidinho’ no supermercado e você levou esse rapidinho a sério. Foi correndo, sentindo o peso do dinheiro no bolso, a sensação de estar sozinho em uma fila, sentindo os olhos dos adultos em você e você se sentindo parte deles. Essa foi a primeira coisa que você contou na escola no dia seguinte. 


Quando adolescentes até escapulimos das regras dos nossos pais para sentirmos na pele a sensação de uma liberdade até então proibida. Pegar um ônibus para um lugar que não conhece, para ir visitar um amigo com a galera. Ficar um tempinho a mais na porta do colégio conversando com os amigos, mesmo que a cada minuto a rua fique mais soturna e inabitável. Mas, você é um adolescente. Não vê o mundo assim. O soturno para ti é convidativo. Essa liberdade é boa. É muito bom poder ir para onde se deseja, sem ter que ser monitorada por alguém. É muito bom ir a algum lugar e cruzar por pessoas que você nunca mais verá o rosto, mas na sua cabeça, você acredita que elas estão pensando: onde está indo sozinha aquela jovem tão independente? 

Aquela história de que, as vezes, o sonho é melhor do que a realidade compete bem aqui.

Liberdade é uma mentira.

Existe uma linha tênue entre o jovem e o adulto e é a noção de mortalidade. Perdemos esse brilho no olhar de nos acharmos invencíveis quando alcançamos o vigésimo ano. Deve estar na nossa genética. Quando conquistamos a nossa liberdade garantida a nós pela vida, curtimos ela um pouco, até que ela cai por sobre os nosso ombros e percebemos que ela não é isso tudo que nos foi contado e até prometido.

Sair para um bairro desconhecido em um ônibus com amigos não parece mais tão atraente. Conferir o caminho e os bairros nos quais ele vai passar parece uma garantia de que você vai chegar “a tempo”. Ficar na rua batendo um papo com os amigos depois das suas aulas na faculdade não parece tão convidativo como no ensino médio. Talvez tomar um sorvete em uma lojinha e ir conversando até o ponto de ônibus seja o mais jogo. E de preferência com toda a galera, assim todo mundo fica junto, para curtir a travessia. A noite já não parece ser tão sua amiga como antes. Sua soturnidade que antes parecia ser convidativa para ti, agora parece uma inimiga e se ela vir acompanhada de uma presença disforme à distância você acelera os seus passos por que você está com “muita pressa” para chegar em casa. Você percebe cada rosto que cruza o seu caminho e busca atrair a atenção de algum deles, para saberem que você está ali, tomando cuidado para caminhar o mais longe possível da parede e consegue ver no olhar deles um único questionamento: o que você está fazendo aqui fora tão tarde? Dia ou noite, a liberdade é uma farsa. Se você estiver em um lugar errado na hora errada, você não vai voltar na hora para casa. Você pode ser visto como inimigo. Você pode ser vista como alguém que talvez estava querendo passar por aquela situação. Você pode nem ser vista como alguém, só como um número.

Não existe liberdade. Ela não passa de uma utopia que buscamos alcançar quando nascemos até morremos. Uma ideia que seria incrível se colocado em prático, mas quando tentamos, nos damos conta que alguns sonhos não são moldados para a nossa realidade e a culpa está em nós mesmos.  



por Bárbara Herdy


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