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Sobre... a liberdade de um escritor.

Por Bárbara Sobral •
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


Nessa manhã li um texto de um seguidor Y em que ele debatia a sua indignação com a postura de um blogueiro X que escreveu um texto onde apoia que escritores brasileiros escrevam sobre outras culturas em seus livros que não, a do seu país, no caso o Brasil. O seguidor Y deixou claro a sua vergonha por essa visão e eu achei curioso. Vergonha. Eu tenho vergonha da nossa sociedade, da nossa política, do Holocausto, da escravidão e até mesmo, da imagem das mulheres nos países do oriente médios. Agora, ter Vergonha de um direito natural de um escritor? Nem um pouco. Respondi o jovem com o texto abaixo, mas é claro que não fui respondida. Nem todo mundo aceita a visão do próximo, por mais educado e culto que essa pessoa se mostre ao mundo, mas estou acostumada a isso, além do mais, não vivo a pouco tempo na sociedade. Meu texto ficou um pouquinho grande, mas senti a necessidade de discorrer sobre o assunto.

Antes de qualquer coisa: sou uma apaixonada pela cultura do mundo. Nos meus livros retratei Inglaterra, Egito, Rio de Janeiro, e pretendo ir mais longe. Amo a história do Brasil e a nossa diversidade cultural, acredito que a nossa sociedade está cada dia ficando mais atrasada (racismo, preconceito, machismo, guerras civis, política, etc.), mas isso (ainda) não destruiu o meu amor por esse país. Concordo com a visão do seguidor Y, mas ao mesmo tempo discordo firmemente. Eu acredito que os autores nacionais (e todos os outros) devem escrever histórias sobre a sua cultura, mas também devem ter a liberdade de escrever sobre o Japão, Egito, Madagascar, etc. Desde que comecei minha carreira vejo textos e mais textos sobre esse assunto e fico com vergonha também, mas é uma vergonha diferente. Vergonha de ver que querem acorrentar a nossa criatividade. O escritor tem que ter liberdade criativa, independente da sua nacionalidade. Quem foi que ditou como mandamento que um escritor brasileiro só pode escrever sobre a sua cultura? O mesmo vale para o escritor americano, mexicano, chinês? Não.

Um exemplo pessoal: Tenho lançado um livro e um conto. O primeiro tem narrativa em Londres com a protagonista sendo descendente de brasileiros e o segundo acontece em Niterói, Rio de Janeiro. Escrevi o primeiro livro sem nunca ter vivido essa experiência de ir até Londres. Não foquei nos pontos turísticos em nenhum momento, e sim em costumes, visual e cotidiano. Li livros, conversei com pessoas que foram e vivem lá, etc. Consegui juntar um bom material para ter segurança na minha escrita. Retratei o livro nos olhos de uma descendente brasileira em um país europeu. Estive na Inglaterra nesse último ano, e sim, vi muitas coisas que posso acrescentar em futuras histórias (ex.como é o sistema das estradas da Inglaterra?Os britânicos não são frios, pelo contrário, são mais calorosos que os brasileiros e o tamisa não fede, sabia?), mas sinto que não pequei nas minhas descrições. CONTUDO, foi o meu caso, isolado. Já li livros de autores nacionais e internacionais que pecaram em detalhes simples e até mesmo, reforçaram clichês de nosso país. Falta de pesquisa? De viajar ao lugar? Não sei. Pode ser. Depende do autor, do leitor, da editora.

A verdade é que é difícil retratar um país e seu costume, seja ele o seu país ou outro. As editoras dão privilégio a livros com narrativas no Brasil? Sim, sempre, mas tenho visto alguns livros que acontecem em outros países ganhando atenção, o que mostra que essa visão está sendo revista. Tem poucos livros internacionais que se passam no Brasil? Discordo. Li, em menos de 2 anos, mais de 8 livros que acontecem ou tem menção ao nosso país. É pouco? É, mas para um país emergente, estamos bem. Eu acredito que o escritor deve ter liberdade de escrever sobre o que quer e não ser acorrentado a escrever sobre uma cultura que, as vezes, não se encaixa em sua história ou não é do seu desejo. Se fosse assim, Tolkien nunca teria escrito Hobbit, Margareth nunca lançaria E o Vento Levou..., JK nunca teria se arriscado em escrever Harry Potter e O Sitio do Pica Pau Amarelo seria só um sonho de um autor nacional lunático.

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