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CRÍTICA | The Maze Runner: Correr ou Morrer (2014)

Por Bárbara Sobral •
sábado, 27 de setembro de 2014



Título: The Maze Runner: Correr ou Morrer (The Maze Runner)
Ano: 2014
Diretor: Wes Ball
Roteiro: Noah Oppenheim, Grant Pierce Myers, T.S. Nowlin, James Dashner (livro)
Produtora: 20th Century Fox
Elenco: Dylan O'Brien, Will Poulter, Aml Ameen, Thomas Brodie-Sangster, Ki Hong Lee, Blake Cooper, Kaya Scodelario, Patricia Clarkson e grande elenco.




Uma perigosa surpresa!


Não é novidade alguma que eu estava ansiosa para a estreia de 'The Maze Runner: Correr ou Morrer'. A escolha do elenco até o lançamento do primeiro trailer, me deixaram muito satisfeita, contudo, mantive a expectativa guardada no bolso. Se tem algo que está saturando para mim é o excesso de adaptações de livros no cinema na expectativa de tornar-se a futura grande série blockbuster, seguindo os padrões de 'Harry Potter', 'Twilight' e a saga do J.R.R Tolkien. 
É ótimo que bons livros sejam adaptados para a grande tela, entretanto acredito que, atualmente, chegamos em um momento que TUDO que é livro está ganhando uma adaptação cinematográfica e televisa e, o antigo interesse de contar uma história para presentear e conquistar um público foi substituído permanentemente pela voraz fome de lucrar. Por que estou dissertando isso? Claramente foi isso que se passou na adaptação de 'The Maze Runner'. O filme é impecável, entretanto, peca mortalmente na adaptação do livro, que prefere seguir o caminho confortável da trama, ao evitar determinadas temáticas, motivo para estar havendo um motim entre os fãs da série contra o filme, algo bem semelhante ao que ocorreu com 'Os Instrumentos Mortais' e 'Academia dos Vampiros'. 

Não me surpreendi.
Estou acostumadíssima com isso.
Na realidade, eu já esperava, tanto que fui assistir o filme com mente e coração aberto (na atualidade, falta muito isso nas pessoas) quando o filme terminou, a sensação de que tinha acabado de assistir um dos melhores filmes do ano não morreu, apesar das considerações em relação a adaptação.

Sem lembrar de absolutamente nada, Thomas (Dylan O’Brien) acorda em um enorme labirinto, mas ele não está sozinho. Há um grupo de garotos que, assim como ele, não fazem a mínima ideia do porquê de estarem naquele lugar. Todos desconhecem os mistérios que os muros do labirinto escondem. Mas, rapidamente, Thomas descobre que seu dever é liderar o grupo para a liberdade.

É com essa premissa que o filme desenvolve-se por 141 minutos. 
Nossos olhos são conectados a seguir os passos de Thomas que precisa, não só descobrir quem é, como também conhecer seus colegas, aprender a conviver com eles, com suas tarefas e regras constituídas pelo líder Alby (Aml Ameen). Inicialmente, Thomas precisa adaptar-se, mesmo que sua curiosidade e intuição lhe ordene que descubra o que está realmente acontecendo por trás daqueles muros em torno da clareira. Além de Thomas, temos Alby o líder do grupo da clareira, inteligente e sensato, ele guia os novatos e os veteranos com um carinho paterno. No sub comando encontra-se Newt (Thomas Brodie-Sangster), simpático e amigo, com o decorrer do filme, Newt cresce, mostrando que não é apenas um fiel amigo a Thomas, mas inteligente, tão sensato quanto Alby e justo. Indo pelo caminho oposto temos Gally (Will Poulter) que não é só marrento, como do contra, como Newt, no decorrer do filme, vemos que Gally apenas lutava para manter aquilo que ele acreditava ser o certo e, que Thomas, destruiu ao mostrar o tão errado que era. Minho (Ki Hong Lee) tem o trabalho de ser o Corredor do grupo. Junto a outros, considerados ótimos corredores, eles aventuram-se a entrar dentro do labirinto em busca de mapeá-lo até descobrir uma provável saída. Enquanto Alby é um mentor para Thomas, Minho ganha o papel de guiar Thomas no desejo de tornar-se o próximo Corredor. Por fim, temos Chuck, o mais novo do grupo que tem um coração de ouro, mesmo perto das circunstâncias e carrega com si um desejo muito particular. 

A apresentação dos personagens e de seus objetivos, em um primeiro momento, tornou o filme um pouco cansativo, mas isso muda quando Thomas consegue trazer uma descoberta para a clareira e, com isso, o grupo se dividi entre aqueles que acreditam que uma mudança é necessária e que os acredita que uma mudança irá os condenar. Como telespectador, somos colocado na posição de optar o que é considerado mais sábio a se fazer: manter na sanidade e regras estruturadas da Clareira ou quebrar todas as expectativas para ir em busca de liberdade. 

Para um grupo de rapazes que não tem conhecimento de nada do 'mundo' por trás do labirinto, o que seria a liberdade? Thomas chega ao labirinto não apenas com curiosidade, mas com um pensamento que era reprimido pelo grupo que apenas aceitava a condição em que se encontravam. Thomas chega ao labirinto com esse desejo intrínseco que eles precisam sair daquele lugar, pois aquilo simplesmente não é correto. Aceitar ordens de um rosto desconhecido e viver como animais, regrados para sobreviverem com medo de algo desconhecido. A verdade por trás dos clareanos era que poucos deles tinham a coragem de ir atrás da verdade, quando aceitar o que tinham era seguro e confortável. Para Thomas, Minho e até mesmo, Newt descobrir o que realmente está acontecendo, o que eram os verdugos e a doença por trás dos infectados, era mais do que uma questão de conhecimento, mas de tomar rédeas sobre a vida deles. O problema era que Thomas, ao trazer esse conceito com si, acaba por ir para caminhos nunca pisados por nenhum clareano antes, essa até então inocente curiosidade, despertou a ira daqueles que os controlavam, a C.R.U.E.L e se era por mudança que Thomas buscava, foi o que recebeu.

A primeira - e última - garota é enviada pela caixa em que todos os garotos e alguns suprimentos são enviados mensalmente. Com ela vem uma mensagem: Essa será a última. Um aviso claro que nunca mais haveria a chegada de outro garoto ou garota, muito menos de suprimentos. Até então, a curiosidade para saber quem é a tal garota é a prioridade do grupo, é quando ela simplesmente desperta, olha para Thomas e o chama, como se o conhecesse. Ela volta a desmaiar e deixa o garoto com essa: ele agora não só não tem ideia de quem é, como tem que descobrir quem é ela. 

O que Thomas não contou a nenhum dos clareanos era que desde que chegara ele tem tido sonhos estranhos. Um monitoramento de um lugar, um lugar semelhante a uma sala médica, a misteriosa garota lhe dizendo que tudo ficaria bem e mais perguntas a serem levantadas. Ele não questiona em nenhum momento aos outros se é o único a ter tais visões, do mesmo modo que Chuck mostra um boneco de madeira que fez aos seus pais, Thomas fica surpreso pelo garoto ter pais e o menino mesmo diz não saber quem são, pois não lembra deles, mas que deve ter. Eu considerei isso um erro no roteiro. Se todos os garotos não lembram nada, por que Chuck lembraria da existência de pais? Do mesmo modo: Thomas não sabe quem é e tem sonhos estranhos com pessoas desconhecidas e não dividi isso com ninguém? Poderia ter tido uma menção, não atrapalharia em nada o decorrer do filme e o deixaria mais redondo. 

Prosseguindo ... Após a chegada da misteriosa garota o filme deixa de ser didático e começa a colocar em prática tudo que tem nos ensinado, explicado e apresentado. É hora de Thomas agir ou tudo que mal começou iria ter um fim terrível. 

Quando a garota desperta, simplesmente surta, escondendo-se dos outros e tentando mantê-los afastados. Eu no lugar dela não faria diferente. Só quando Thomas se apresenta, ela permite que ele se aproxime. Teresa e Thomas dividem o que se lembram, mas nada parece encaixar. A mensagem que ela recebeu, ela mesma não sabe dizer o que significa e como ela acabou de chegar, ela não tem a menor ideia do que se passa e de onde está. São muitas perguntas para pouco tempo.  
Teresa também trouxe duas seringas, que não tem a menor ideia da utilidade, mas quando Thomas repara nas iniciais, ele suspeita que possa vir se a cura para salvar um dos seus colegas da desconhecida infecção. É uma tentativa ousada que é feita por impulso de Teresa. Enquanto o rapaz se recupera o grupo une-se para decidir o que será feito: eles irão morrer ali sem ajuda deles ou morrerão no labirinto. Com as descobertas de Thomas expostas cabe ao grupo decidir o que deve ser feito para o bem de todos. Em pouco tempo, o rapaz melhora da infecção, contudo, ele se lembra de tudo que aconteceu e como Ben, acusa Thomas por tudo que está acontecendo ali dando novamente responsabilidade a Thomas de coisas que estão fora do controle.

A C.R.U.E.L. mostra que enviar Teresa não foi sua última tacada. 
Com isso, ela mantém todas as portas abertas permitindo que os temíveis Verdugos invadam a Clareira o que só pode significar na morte de todos que ali estão. As cenas foram muito bem feitas, mostrando o desespero dos personagens que não sabiam como se proteger e defender daquelas criaturas. Os poucos que sobrevivem passam pelo verdadeiro inferno. A liderança do grupo é colocada em prova. Newt não tem o pulso que Alby tinha. Thomas não tem interesse de ser líder, mas Gally sim. Com isso, Thomas acaba sendo preso por ter desrespeitados praticamente todas as regras dos Clareanos desde o dia que pisou ali e ele nem desconfia do que o rapaz planeja para dar um fim a ele. Do mesmo modo que o novo líder também não desconfia da esperteza de Thomas e seu grupo. Essa parte, em particular, me incomodou profundamente no filme.

A questão da Cura Memorial de Thomas foi um desrespeito aos fãs, a série e ao próprio personagem. Sejamos sinceros: Muda algo na história? Não, muito menos a destrói, como muitas pessoas andam dizendo por aí, mas muda os objetivos do personagem e isso, mates é inaceitável. Para quem não leu a trilogia saibam que: Thomas passa TODOS os livros em busca dessa cura e aí, os roteiristas decidem que ele deve tê-la no ápice do primeiro filme. POR QUE? Apenas para ele ficar um passo a frente da C.R.U.E.L e de reforçar sua posição de líder dos Clareanos, ele querendo ou não?  Eu considerei isso um profundo erro na história da trilogia, incorrigível, pois agora, qual será o objetivo de Thomas, além de sobrevivência? O que os roteiristas irão criar como objetivo pessoal para o personagem? Aí mora o perigo! Com isso, podemos esperar uma profunda mudança no personagem na continuação do filme. 
  
O filme chega em seu ápice. Gally toma uma decisão digna dos tempos romanos, mas Thomas com seu grupo mostra que amizade, esperteza e confiança vai muito mais longe do que poder e força. 
No labirinto temos n ótimas cenas de ação, que levam o grupo, abatido e guerreiro para o ponto que eles tanto esperavam. A liberdade que, vem com um preço: a verdade. Agora Thomas e seu grupo precisam lidar com a verdade da realidade que se encontram e da importância que eles são para esse mundo. A questão que caí sobre os ombros de cada um deles é: deveriam ter fugido em busca dos próprios desejos ou deveriam ter se mantido onde estavam, pois havia um motivo maior por trás disso? É claro que nem tudo são mar de rosas e o final é tiro, porrada e bomba. Eu recomendo lencinhos, estrutura e joguem todos os prêmios na cara do Dylan, tá? Tá!

Com um final claramente aberto para uma continuação, ainda temos a revelação de detalhes que os Clareanos nem sequer suspeitam ser uma realidade. 

O filme acabou e fiquei sem estrutura. Saí do cinema reclamando, xingando, resmungando, chorando, desestruturada e precisando do próximo filme e do livro, tipo, para ontem. Tem coisa melhor do que isso? Sim, ter a continuação confirmada para daqui há um ano. A FOX está investindo forte em 'The Maze Runner' e não é para menos. 

A produção foi impecável. Os efeitos especiais foram ótimos, me senti dentro do filme em cada cena de ação, quando temos aquela panorâmica do labirinto eu me senti no lugar de Thomas, apavorada com a ideia, claustrofóbica, de ficar presa ali com apenas uma saída, que me levaria a uma provável morte e vamos ser sinceros: os verdugos tinham que ser temidos mesmo. 
fotografia do filme também ficou muito bonita, ressalva aos detalhes do labirinto e aquela panorâmica no finalzinho do filme mostrando tudo que Thomas e o grupo iria deixar para atrás. 
Senti falta de uma trilha sonora, são poucos os momentos que escutamos uma musica instrumental para aclimatar o momento. Essa falta de trilha dá uma identidade obscura a trilogia, o que é muito bem vinda, mas em tempos de ótimas trilhas sonoras (vide 'Twilight', 'Eu sou número quatro' e 'A Hospedeira') Maze Runner perdeu a chance de viciar seus telespectadores com uma trilha para embalar suas vidas até o próxima filme.   

Sobre os atores não tenho reclamações.
Uma das minhas certezas sobre esse filme era que o elenco faria um excelente trabalho. 
Saí do cinema querendo tacar todos os prêmios possíveis na fuça do Dylan. Ele estava ótimo como Thomas, conseguiu dar vida a um personagem que, no livro, é apagado, e no filme, ganhou uma presença, vida e carisma que faz o telespectador torcer por ele. Ele, definitivamente, nasceu para ser o Thomas.
Thomas Brodie-Sangster estava um querido como Newt. ele como Dylan, consegue fazer com que o público goste de seu personagem e, algo muito importante, ele trabalhou muito bem. Suas expressões, ações e impostação de voz mostrou bem que ele trabalhou para construir o melhor possível esse personagem. Uma ressalva para a ótima química que ele teve com Dylan, era quase como se os dois tivessem coreografados suas cenas de tão natural e perfeito que foram apresentados.
Aml Ameen interpreta o mentor e líder Alby. Seu personagem, mesmo com um papel secundário, é importante para o desenvolver do filme e Aml conseguiu apresentar um líder forte, que mesmo com as dificuldades enfrentadas durante sua trajetória no labirinto, não perdeu o seu bom coração. Há dois momentos que o ator mostrou o tão entregue ao personagem se encontrava e espero poder ver futuros trabalhos dele, pois Aml é um daquelas grandes promessas artísticas que devemos ficar de olho.

Agora a bitch chegou para falar de dois poren's no elenco: Kaya Scodelario e Will Poulter. Eu não entendi o que aconteceu com eles. Não sei se a atuação deles foi o que o roteiro deu como possibilidades de interpretação ou se foi o que tinha para hoje. Eu esperava uma Teresa com presença, determinação e atitude e a Kaya parecia a maior parte do tempo perdida, alheia as cenas e completamente fora de conexão com os outros atores, principalmente com o Dylan, com quem ela deveria ter a química sentida à quilômetros de distância. 
No caso do Will, serei solidária, Gally não facilitou em nada para sua atuação. Poulter, normalmente, faz personagens durões, irritados com o mundo e que são considerados os 'vilões'. Gally não distancia-se em nada do velho conhecido Eustáquio de 'As Crônicas de Nárnia'. Tudo bem, sejamos honestos, Eustáquio conquista a sua redenção, já Gally... Acaba que o Will fica estereotipado em um antigo personagem o que acaba parecendo que ele não evoluiu em nada em sua atuação e que, ele é do tipo que interpreta apenas um tipo de personagem. Não acredito que seja esse o caso. 

Agora é a hora da facada: Vamos falar sobre o roteiro.
Ao longo da resenha comentei sobre diversos erros estruturais de roteiro e sequência. Quando analisamos em questão de adaptação, piora. Eu nem quero discorrer sobre isso, pois acredito que livro é livro, filme é filme. Temos que pensar desse modo: Nem sempre o que funciona em livros, funcionaria em uma película ou em um episódio de uma série. Alguns cortes precisam ser feitos por questão de tempo, adequação e importância. Então, vou destacar aquilo que tenho visto ser o mais comentado como um problema de adaptação pelos fãs: 
Sejamos sinceros: o tão importante é Thomas e Teresa lerem a mente um do outro? Isso os une, mostra que tem uma ligação única, mas é determinante para o desenvolver do enredo central da história? Não. É apenas um detalhe que reforçar que eles tem uma química e são feitos um para o outro, outro detalhe pouquíssimo administrado nesse filme e sejamos sinceros, foi uma ótima escolha. Estamos falando de uma distopia não existe tempo para amor, se não a tempo para sobreviver. Retirar esse detalhe da história foi uma atitude perigosa, mas que para mim, funcionou. Diferente de terem adiantado o evento envolvendo a cura memorial de Thomas, que para mim, é uma ruptura no personagem que ele se torna no decorrer da trilogia. 

'The Maze Runner: Correr ou Morrer' surpreende ao apresentar, despretensiosamente, um ótimo filme, com um roteiro que desvaloriza alguns importantes aspectos de sua trilogia literária, entretanto ganha e conquista seu público com um elenco e produção impecável, mostrando a que veio e deixando no ar a expectativa de uma continuação tão boa quanto a primeira, valorizando o material literário, sem deixar para trás os pontos acertados na película. 

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