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RESENHA | Encantos do Jardim, de Sarah Addison Allen

Por Bárbara Sobral •
sexta-feira, 22 de agosto de 2014




Livro: Encantos do Jardim
Autora: Sarah Addison Allen
Tradutores: Paulo Reis, Lourdes Menegale
Editora:  Rocco
Edição: 1º | 2007
Onde Comprar: Saraiva | Estante Virtual
Páginas: 238
Sinopse: Embora as mulheres da família Waverley não sejam feiticeiras, todos na diminuta cidade de Bascom sabem que há algo misterioso nelas. A avó de Claire criava iguarias únicas com flores comestíveis para resolver os problemas das pessoas e sua idosa prima Evanelle tem mania de enviar presentes inesperados exatamente quando as pessoas mais precisam deles. 
Quando Sydney, irmã de Claire, volta a Bascom após anos de ausência, traz junto sua filha Bay e a capacidade de unir essa família pouco convencional.                                                                    


                                                               


Uma encantada surpresa


Faz alguns longos e soturnos meses que não consigo devorar um bom livro com olhos aflitos e coração ansioso. Nem quando li uma história de um dos meus maiores vícios 'Doctor Who: Shada' de Douglas Adams, fiquei tão empolgada quanto me encontrei nesses últimos dias. Até encontrar 'Encantos do Jardim', da Sarah Addison Allen. Ou foi ele que me encontrou?
Comprei esse livro num impulso (novidade!), meus olhos bateram na lateral do livro, o peguei e foi de primeira: amei a capa, o título e a sinopse. Foi apenas duas dilmas (reais) no Projeto Mais Leitura, então pensei: Bom, posso não ler agora, mas um dia lerei e quem sabe, valerá a pena. Sabia que ia lê-lo bem mais cedo do que o esperado. Ele estava sempre me olhando entre as laterais dos outros livros. Parece até injusto com eles. Tantos livros na espera há tanto tempo, simplesmente, os pulei para ler esse. Mas, valeu cada segundo!

Me questiono porquê não ouvi falar desse livro antes?
No inicio, acreditava que o livro seria uma espécie de extensão do universo de 'Practical Magic' da Alice Hoffman, pois as histórias são extremamente similares, entretanto, me enganei - e muito!

A história começa nos apresentando Claire Waverley, uma mulher na casa dos 30 anos, que vive para o seu buffett de comidas exóticas e especiais na pequena cidade de Bascom, Carolina do Norte. Ela é atípica. Controlada, misteriosa e contida, Claire não gosta de mudanças de nenhuma espécie, tem um coração cheio de magoas e é movida impreterivelmente pela razão. Conhecemos em seguida Evanelle Franklin (ressalvo aqui que ela é uma das personagens mais carismáticas do livro), tia de Claire, uma senhora na casa dos 79 anos que tem o espirito de uma jovem de 25. Ela tem um dom estranhamente incomum de sempre dar as pessoas algo que elas precisam, só que elas não sabem disso ainda, esse dom é conhecido como antevisão. Ela vive com esse dom desde o inicio de sua vida, o que era bem difícil (outra época e momento, logo muito mais preconceitos), mas hoje em dia, ela é só vista como uma senhora que parece saber das coisas, já Claire, que também não teve uma juventude fácil, é vista como uma mulher estranha e distante, mas que sabe preparar comidas divinas capazes de realizar os menores dos desejos. A vida de Claire é a mais monótona possível: prepara comidas para os buffet, entregas especiais aos seus vizinhos, passeios com sua tia e cuida religiosamente de seu jardim, que aos olhos dos outros é soturno, mas aos olhos de Claire, impar, principalmente por conta da proibida macieira.

É quando a vida de Claire vai para dentro do liquidificador e dá uma boa sacudida com a chegada de Tyler Hughes, um cara, que por algum motivo desconhecido, se encontra cegamente interessado em Claire no primeiro momento que coloca os olhos dela. Waverley, diferente de todas as mocinhas do universo dos romances, se sente perturbada com essa aproximação e não, interessada. Arrepios, desconforto e temor a fazem fugir dele como o diabo da cruz, mas ele parece tranquilamente envolvido por ela, como se a conhecesse a anos e para o azar (ou sorte) de Claire, ele é o seu vizinho, tornando aquela frase o perigo mora ao lado a prova durante boa parte do livro. As interações dos dois é simplesmente perfeitas. Claire mantém seu muro de gelo erguido em um terço do livro, enquanto Tyler tenta se esgueirar e aproximar da sua 'musa' de todos os modos possíveis, sem ser prepotente e grosseiro, apenas cavalheiro e curioso. Sua certeza que ele e ela devem ser um nós não é banal ou forçada, você como leitor acredita cegamente nele e quer entender o porquê, do mesmo modo que você quer compreender porquê Claire não o deixa entrar em sua vida. Questionamentos dos motivos passam por sua mente, mas a resposta foi dada no primeiro encontro dela com Tyler: controle.

Então, se não bastasse esse misterioso rapaz que mexe com todas as estruturas gélidas da vida de Claire, Sydney Waverley, sua irmã mais velha selvagem, rebelde e impulsiva, que está longe de casa há anos, retorna com sua filha, a adorável e esperta Bay, ambas carregando um mistério em suas vidas que esconde de todos. Sydney desperta não apenas em Claire memórias de um tempo distante que não partiu, como em outros personagens como Emma Clark, influenciada pela sua víbora mãe April, ela é movida a acreditar que depois de quase uma década, Sydney resolveu retornar a Bascom por causa do então, agora, marido de Emma, o gostoso e maravilhoso Hunter John. Claro! Porque faz todo sentido do mundo, né? A mulher se despencar do outro lado do mundo por causa de um individuo que ela não vê há uma década! Selinho #táserta de aprovação a Emma!
Mas, Sydney não voltou por causa disso, seu motivo é muito maior, importante e tenebroso que um simples amor. Ela busca proteção e recomeço, mas não para si, para Bay, mas no decorrer do livro, vemos que no fundo, ela buscava isso para si também. Outro interessante fator do livro, que é o seu foco, é o relacionamento de Claire e Sydney. Ambas não tem contato por um bom tempo, as bases de seu relacionamento estão mexidas e instáveis. A autora trabalhou muito bem o relacionamento das irmãs transpassando a linha do desconfortável a linha da confiança e amizade no decorrer do processo do livro. Com a conclusão dele, você pode sentir que ali existe, mais uma vez, uma família.

Existem outros importantes personagens no livro como Fred Walker, um homem na casa dos 40 anos que está dificuldade com o seu parceiro, James. Ele comprou uma especie de vinho com Claire, que ajudaria o casal a relembrar os bons momentos, e talvez, isso os ajudaria, mas tudo dá errado, e graças a isso, Fred entra na vida de Evanelle, se tornando não apenas a sua companhia depois de anos solitária, desde a morte de seu amado marido, mas seu melhor amigo. Temos também Henry Hopkins, um antigo colega de classe de Sydney, que hoje em dia, cuida de seu avô debilitado, Lester Hopkins. Henry se torna uma importante ponte para Sydney aprender a confiar nas pessoas e se permitir, tentar recomeçar.

O livro é dividido em 03 partes: Visão Posterior, Visão Interior e Visão Externa.

Confesso que dei 4 estrelas, pois senti um falta de trabalho na construção da Família Clark.
Eu esperava mais sobre eles e acabou que não tive absolutamente nada.
No decorrer do livro, o leitor descobre que os Clark odeiam os Waverley há muito tempo, com um motivo forte, contudo, esse ódio ter perdurado até hoje em dia, sem ter uma razão não me convenceu. Outro detalhe quanto a eles foi que a autora se prendeu muito no relacionamento entre Emma e Hunter John - e nas manipulações de April; mesmo depois de ter ficado claro por Sydney que não havia possibilidades dela estar ali por Hunter, a autora se estendeu em relatar a vida da família Clark como se fosse ser importante no futuro da história e não foi. Achei desnecessário. Mesmo que mais tarde Emma tenha mostrado ter muito mais caráter que a mãe, e isso foi uma certa influência de Hunter, mas sinceramente, não senti a necessidade de seguir os passos deles no decorrer da história quando já estava certo que a influência que eles poderiam ter no desenvolver fora cortada.

Outra razão para a minha nota 4 foi o final. Tão rápido quanto o ligeirinho. Por que? Não sei. Talvez a autora não quis se estender no suspense e ação, quis ser objetiva ou simplesmente ela para ela esse final era o suficiente. Não estou dizendo que foi ruim, apenas esperava mais.
Queremos que o final tenha movimento, mas também, queremos que ele faça jus a todo o processo do livro. Passamos o livro inteiro na expectativa do passado de Sydney bater na porta de sua vida. Ela sente o perfume daquele que ela teme por todos os cantos. Ela não divide sobre esse passado com ninguém, apenas com Bay. Sua vida, por mais estável que se encontre em Bascon, sempre teria a sombra daquele homem e quando o passado finalmente chega ... acaba. Tipo, não estou falando que foi ruim, mas eu esperava que tivesse mais impacto no emocional dos principais personagens.

Entretanto, verdade seja dita, nenhuma ponta foi deixada solta.
É um livro redondo, mesmo que possibilidades fiquem abertas sobre alguns personagens, os enredos principais foram concluídos e os novos ficarão em nosso imaginário. Nada melhor, certo?
Por mais que você ame cada um daqueles personagens, eu, pelo menos, fiquei muito feliz por ser um livro só e saber que eles foram felizes para sempre.

Me apaixonei pelo livro, amei todos os personagens, mas confesso que Claire é a minha favorita, pelo simples fato que me senti muito próxima dela. Se eu conhecesse Sarah diria que ela escreveu sobre mim. Quem diria que me sentiria assim sobre um livro! A escrita de Sarah é deliciosa, definitivamente vou ler outros trabalhos dela. Se alguém conhecer algo e quiser me indicar, fiquem a vontade!

Eu amei o trabalho de diagramação do livro, é muito fofo as rosas nos inícios de cada capítulo e as folhas nas divisões das partes; tudo remetendo ao jardim. A capa mantém o trabalho da capa original, então sem grandes mudanças.

É uma leitura fácil, agradável e leve. Focado no público adulto, impossível ler e não se apaixonar pela história da família Waverley.

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