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RESENHA | Alias AKA Jessica Jones (1 - 9)

Por Bárbara Sobral •
quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Sou aficionada por quadrinhos a muito tempo e graças a vibe atual de Super Heróis (e uma coisa chamada Google), estou conseguindo construir a minha coleção de Comic Books (tenho quase todos do Daredevil e quase completando o do Hawkeye) e conhecer novos personagens tanto da DC quanto da Marvel (Canário Negro? Kate Bishop? Cassie Lang? Felicia Hardy?) aos quais não tiveram a chance de chegar ao mercado brasileiro através de alguma editora na minha adolescência ou escaparam dos meus olhos por puro desinteresse de uma jovem Barbara. Jessica Jones foi um desses heróis.

Eu a conheci graças ao anuncio da série produzida pela Netflix e antes dela ser lançada, o que vai acontecer nessa semana, resolvi ler seus quadrinhos para conhecer o seu universo, antes de assistir a adaptação dos roteiristas da série. Adivinhe minha felicidade ao descobrir que ela foi criada por ninguém menos que Brian Michael Bendis, apenas um dos meus escritores favoritos (por favor, o que ele fez com Daredevil foi SENSACIONAL. Amo você, Miller, mas Bendis tem a minha devoção).

Jessica Jones é tudo que a Marvel nunca tentou antes e Bendis surpreendeu o mercado ao desenvolver essa personagem com ares independente, numa editora como a Marvel Comics. Após desenvolver um dos melhores arcos no Universo do Homem Aranha e Daredevil, e ainda escrever uma minissérie sobre a Elektra, com apoio de Chuck Austen (o qual ainda preciso ler), ele recebeu o sinal verde para desenvolver um outro trabalho. Inicialmente, ele iria trabalhar com uma história pré-existente de Jessica Drew, a Mulher Aranha, mas acabou desenvolvendo uma personagem zerada e assim nasceu Jessica Jones. E adivinha? Sua personagem não apenas lhe rendeu um enorme sucesso, como a Marvel criou um selo exclusivo para histórias de natureza violeta, realista e explicita, como os de Jessica Jones, o selo Marvel Max.


Quem é Jessica Jones?

Uma super heroína, ex integrante dos Vingadores que abandonou seu uniforme, num primeiro momento não explicado e abriu a sua agência de investigação chamada Alias e ali, ela resolve dos casos mais incríveis, aos mais inacreditavelmente corriqueiros. Esse é o seu ganha pão e Jessica utiliza de suas habilidades especiais para fazer o seu trabalho. Não há honra, não há heroísmo, muito menos aquele velho discurso de: essa é a minha cidade e eu sou a unica que posso sobreviver. O lema de Jessica é: eu preciso de dinheiro para pagar meu aluguel e o meu uísque, agora saia da minha frente.

Ela é mal humorada, grosseiro, estupida e depressiva. Jessica se afunda dia após dia em bebidas. Ela é solitária. Ela não gosta de seus poderes. Ela não suporta o mundo. Ela é uma alma perdida tentando encontrar um proposito ao meio do caos. Ela pode ser corajosa, mas não existe honra em seus atos. Ela faz o que precisa fazer, e quando ela chega no seu limite, ela é capaz de ser impulsiva ao ponto de ferir os sentimentos de terceiros. Alias é um quadrinho arriscado, pesado e violento. Bendis não criou uma personagem com a intenção de conquistar o leitor com os seus pensamentos e personalidade, ela pouco se importa se é legal. Jessica não existe no universo dos Vingadores até 2001, mas Bendis a encaixa no universo deles sem causar danos a linearidade e ainda consegue desenvolver uma amizade entre ela, Carol Danvers, Scott Lang e Peter Parker.

Sabe o que os bons escritores de fanfiction fazem, eles pegam um personagem (ou vários deles), desenvolvem uma história original (ou trabalham com uma existente naquele universo) e encaixam o seu personagem original naquele mundo de uma forma que consegue fazer o leitor acreditar que aquele personagem sempre existiu naquela história. Li poucas fanfictions que conseguiram me passar essa sensação, mas elas existem por aí e Bendis me fez sentir assim ao ler Alias, me fez sentir lendo uma espécie de história sonhada paralelamente na mente de um eterno fã dos Vingadores.

Bom, voltando aos arcos (ou seja, enredos) apresentados entre os quadrinhos 01 a 09. Temos aqui dois arcos de quatro números e duas OneShots de rápida leitura, interessantes, diferentes do que estou acostumada a ler no Universo das HQ e impactantes. Eu me peguei comovida por Jessica em vários momentos da HQ, principalmente no seu aspecto solitário e auto destrutivo. Eu li os primeiros nove  números dessa série e conheci Jessica na sua natureza mais rústica, violenta e desprezível. Bendis não desenvolve sua origem, o que é algo naturalmente lido em outros quadrinhos. Ele simplesmente nos apresenta a Jessica dos seus dias atuais e aos poucos vamos desvendando em suas duras e frias camadas o que lhe atormenta. Jessica transita de Manhattan a Hell's Kitchen e o mundo em seu entorno é vazio, solitário e soturno.

O primeiro arco é onde Jessica é apresentada ao público, como uma detetive solitária, mal humorada e cansada, ela é contratada para encontrar o paradeiro de uma mulher e o que antes parecia apenas um sumiço ou mal entendido, acaba tornando-se que existe algo de podre por trás daquele trabalho. Sua paranoia a leva desconfiar que ela é o alvo de alguém desconhecido e ela tem apenas duas opções: ou ignora aquele caso ou aprofundar-se nele e descobrir o que está acontecendo. Nesse arco conhecemos Luke Cage, uma das poucas pessoas na vida de Jessica. Cage mostra em poucas palavras ter carinho e respeito por Jones, e por mais que ela demonstre ter afeto por ele, ela acaba seduzindo-o a passar a noite com ela, em busca de uma noite de sexo selvagem com a única intenção de sentir algo. Esse arco é resolvido através da lógica e raciocínio de nossa detetive. Sem grandes lutas e planos mirabolantes, Jessica desvenda o mistério por trás daquele trabalho tão sombrio quanto o mundo sem cor de Jones.


O arco seguinte é dedicado exclusivamente a amizade entre Jessica e Carol Danvers (a famosa Ms ou Capitã Marvel). Carol é uma das poucas amigas remanescentes da era em que Jessica era uma heroína e era parte dos Vingadores com o codinome Jewel (ou Safira, em português). Ela deixou os Vingadores alegando não pertencer àquele mundo e em uma breve conversa anterior com um Steve Rogers que desconhece totalmente Jessica, apenas lembrando brevemente de sua alter ego, é notado que existem muitos outros motivos por trás do distanciamento de Jones do universo grandioso dos Vingadores.

Após esse rápido arco chegamos aos meus números favoritos, até então, onde conhecemos Rick Jones e sua história de eterno sidekick. Rick desaparece e preocupada com o que pode ter acontecido com ele, devido ao seu passado turbulento, a Sra. Jones busca Jessica para ajudá-la a encontrá-lo e ainda sugere que ela e Rick possam ser parentes. Com isso, Jessica entra em contato com sua mãe e não precisa de muito para ficar claro que a relação com sua mãe é horrível e descobre não existir nenhum indicio do tal Rick ser seu parente. Jessica busca compreender o desajustado Rick Jones através de sua autobiografia e da algum dos seus conhecidos, e com isso acabamos por conhecer Jessica. Através da desconstrução de um personagem assistimos o crescimento de nossa protagonista. Bendis consegue não apenas nos apresentar quem foi e é Rick através de sua autobiografia, como nos conta algumas histórias de outros personagens do Universo Marvel aos quais se encontram costurados ao universo de Rick.

E por fim, após esse arco temos uma OneShot onde Jessica é contratada por J. Jonah Jameson, editor do Clarim Diário para descobrir a identidade secreta do Homem Aranha. De todas, esse é um arco sem grandes revelações com pouco desenvolvimento, o que acaba nos apresentando pouco de Jessica, mas destacando os seus feitos, através dos diálogos de J.J Jameson e Ben Urich (ele mesmo, o jornalista aliado de Daredevil). A postura por trás desse trabalho nos mostra uma Jessica justa e debochada que pouco se importa com as ameaças de J.J.J. É divertido assistir o que Jessica faz nesse arco e como manipula J.J.J num jogo onde ela e sem saber, o Homem Aranha saem como vencedores. Como mencionei Ben, acho legal comentar que Matt Murdock aparece no primeiro arco. A mando de Luke Cage, ele defende Jessica de uma acusação falsa e cuida de seu caso. Nessa OneShot ele é novamente mencionado por J.J.J e Ben, como sendo o defensor do Homem Aranha e o provável Daredevil, o que nos mostra que Bendis aproveitou as suas próprias histórias, o que honestamente foi algo muito apreciado por mim.


Não me ative muito a questão da ilustração durante a resenha, pois não tenho muito embasamento quanto à esse assunto, então deixarei aqui a minha opinião cegamente pessoal. Um dos motivos para eu ser atraída ao universo de Jones, além da série, foi o fato de ser um Universo criado por Bendis e a ilustração de Gaydos. Ele desenhou Redenção de Daredevil (não é um dos meus arcos favoritos, but...) e WOW, mates. Que trabalho impecável! Eu acho o trabalho de Michael Gaydos um dos mais bem feitos, sensíveis e belos do mercado dos quadrinhos. E ele não decepciona em Alias. O seu jogo de cores demarca a solidão e depressão de Jessica Jones (Aqui um ótimo trabalho de Matt Hollingworth). Os seus traços ora imprecisos, ora tão reais que você acredita poder tocar com seus dedos mostra como Jones enxerga o seu mundo, ora em tons crus, ora em tons arroxeados. Não existe perfeição num mundo real e cruel demais. Jessica não é uma mulher atraente, se quer bonita. No universo dos quadrinhos onde temos Felicia Hardy, Natasha Romanof e Elektra Natchos esbanjando em seus arcos curvas irreais, poses sedutoras, cabelos sedosos, sorrisos diabólicos e sempre exageradamente sensuais com suas vestimentas diárias e de heroínas/vilãs, Jessica é uma mulher em um milhão. Ela é meramente comum. Não existem seios fartos, coxas grossas, cabelos enormes e brilhosos, corpo delineado voluptuosamente e roupas sensuais reveladoras, ela é apenas uma mulher como outra qualquer usando jeans surrado e moletom. Bendis não criou um modelo a ser apreciada, desejada e honrada, ela criou uma humana para ser questionada, adorada e emponderada.

Alias AKA Jessica Jones é uma HQ essencial a todos os apreciadores de uma história envolvente regada com suspense, mistério, humanidade e uma protagonista atípica que tem como única missão conseguir o dinheiro do aluguel para o fim do mês e acaba em poucas páginas arrebatando o coração do leitor.

 

Não esqueça!
No dia 20 de novembro o Netflix irá estrear a primeira temporada na integra de Jessica Jones.
E aí, o que você espera da nova heroína de Hell's Kitchen?

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