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Writing Challenge | #PHpoemaday | 01 • Auto Retrato

Por Bárbara Sobral •
domingo, 1 de junho de 2014

Auto Retrato
Bárbara Herdy


Nas Segundas sou meio Picasso.
Tenho um olho pequeno, outro mais a esquerda para o alto, um nariz reto, as maças sobressaltadas e um largo sorriso, que chega a ser maior que a minha face. Sou cores, sou desenhos, sou dimensão, sou uma em muitos. Sou confusão.

Nas Terças sou meio Durer.
Sou luz. Sou beleza. Sou misticismo.
Entregue a escuridão da noite, iluminada pela luz do dia, me vejo por completo. Olhos, nariz, boca, bochechas, sobrancelhas, cabelos, colo, rosto. Sou. Pode apenas ser o inicio, mas não é melhor momento de me enxergar, perto do inicio e do fim, mostro parte de quem sou - ou de quem quero ser.

Nas Quartas sou meio Van Gogh.
Me vejo meio sóbria. 
Com um fundo desfocado, do lugar instável que me encontro, olhos cansados da mesmice, meio aqui, meio lá, um ar julgador de quem olha o mundo e não acredita, positivamente, que está no meio daquele mundo.
   
Nas Quintas sou meio Michelangelo.
Sou quem sou.
A idade que aparento navega nas rugas expressas em cada pincelada.
Meu corpo, com suas deformidades normais dos alimentos e sedentarismos estão ali. As vezes nuas como vim ao mesmo, as vezes vestida como irei me encontrar em meu fim.
Mas há uma diferença, sou tudo que desejo.
Sou deusa. Sou profetisa. Sou presente.
Anuncio o futuro e aceito o passado.
Mostro quem sou aos olhos do mundo e sou apreciada por quem sou. 

Nas Sextas sou Caravaggio.
As vezes soturno, as vezes malicioso, as vezes entregue ao marasmo.
Carrego em minha face a jocosidade e molecagem. Um sorriso esperto de quem sabe muito, mas não diz nada apenas pela diversão de saber mais, enquanto o resto, sabe nada. Entre um sorriso irônico e a surpresa do inesperado, passo meu dia na expressividade, não escondo meu rosto como com Michelangelo, em busca da liberdade durante o doloroso percurso do cotidiano, sobrevivo um passo a frente do meu tempo.

Nos Sábados sou totalmente Monet.
Descanso. Continuo um passo a frente dos outros, cegos pelo clássico, se negando a ver aquilo que se aproxima, luto por que creio, sem muito tempo de pensar naquilo que me reflete, pois o vivo
Meio difusa, pigmentada, distante, entregue a natureza, estou sempre em movimento.
Não tenho tempo sequer de erguer meu rosto ao vislumbre alheio, pois estou ocupada demais admirando o mundo a minha frente, sombreada por meu guarda sol, sentada na relva posso estar brincando com uma criança ou quem sabe, na margem de um rio, rindo e me deliciando com a água em um dia agradável de verão.

No Domingo sou Reflexo. 

Sou o que vejo naquele reflexo ao despertar. 
Cabelos em pé, expressão cansada, profundas olheiras.
Sou cores, ainda desbotada mas a nascer, como um retrato de um pintor que se dedica a ela do despertar da criação ao seu nascer. 
Olhos castanhos brilhantes ansiosos pelo que se aproxima nesse dia, lábios grossos e frouxos a qualquer risada, sempre contida, mas em completude, sou feliz. Maças do rosto sobressaltada, algumas pintas espalhadas, pele branca natural e por o sol evitar, mesmo que o aprecie. Cabelos vermelhos como as chamas voam pela brisa que pode me refrescar ou esfriar, só depende de que Domingo estamos a falar. Roupas confortáveis, coturno pesado, bolsa de lado, um caderno sempre em mãos, como um livro, parece viver uniformizada, de vermelho a azul, o roxo nunca tem vez. Isso é apenas uma imagem, que passará, e não ficará, gravada ali, naquele ponto no tempo, mas se isso te mover de algum modo, poderá ficar em sua mente, gravado como um retrato pintado, pela eternidade.
Nada escapa dos meus olhos. Nem dos seus.
Sou movimento. Sou dimensões. Sou cores. Não o que você vê, sou o que vejo, eternamente.

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